Banco Clássico fica fora da oferta da Eletrobras, mas segue no conselho

Por: Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt
Fonte: O Estadão
O Banco Clássico, pouco conhecido entre o grande público, tem só um
escritório no Rio e apenas um correntista, seu dono José João Abdalla Filho.
Por vários anos, ele foi construindo uma posição na Eletrobras, onde passou
a ser o maior acionista minoritário. Agora, deve perder esse posto, pois o
banco optou por não exercer seu direito de preferência na oferta de ações
que privatizou a empresa de energia. Ao preço que saiu a oferta, teria que
gastar por volta de R$ 1 bilhão.
O grupo não exerceu o direito de preferência, reduzindo a sua participação
pela diluição ocorrida”, afirmou o advogado de Abdalla, Leonardo Antonelli.
Com isso, a fatia do Banco Clássico na empresa deve cair de 4,2% para perto
de 3%, embora ainda siga como investidor relevante. O banco manterá
assento no conselho de administração, tendo como representante o
advogado Daniel Ferreira, indicado pelo empresário.
Considerando que o papel despencou após a oferta e ontem recuou 2,6%,
Antonelli vê a decisão de Abdalla como acertada. O preço do papel na
oferta, fixado em R$ 42, acabou por afastar outros grandes investidores.
Um dos mais relevantes que ficaram de fora foi o GIC, o fundo soberano de
Cingapura. O fundo deu uma ordem alta, de R$ 4 bilhões, mas com o preço
da ação na casa dos R$ 38,50 e não aceitou pagar mais. Também ficou de
fora o canadense CPP, investidor tradicional do mercado de energia no
Brasil.
“A modelagem da oferta, por meio do qual o TCU (Tribunal de Contas da
União) acabou criando um preço mínimo, engessou as negociações e
dificultou as análises especialmente porque o processo atrasou e muitos
grandes investidores trabalhavam com outra margem de preço”, comentou
uma fonte. Pelas regras do TCU, o BNDES só poderia vender as ações a uma
preço mínimo, não conhecido pelo mercado.
No Banco Clássico, Juca Abdalla, como é chamado no mercado, tem perfil
ativista, semelhante ao dos grandes investidores americanos. Gosta de
estar por dentro do que acontece nas empresas em que investe. Discreto,
é raro ver uma foto dele em buscas pela internet, não aparece em colunas
sociais e não dá entrevistas. Graças a sua participação na Petrobras, foi
parar no conselho da empresa em abril, onde conseguiu duas vagas dos
acionistas minoritários. Agora está sendo reconduzido ao conselho da
petroleira em razão da troca de seu comando, ao lado de Marcelo
Gasparino, que é do conselho de administração da Vale pelo Banco Clássico.
O dono do Banco Clássico é filho do empresário e político paulista JJ
Abdalla, que apostou nos setores têxtil, metalúrgico e imobiliário, além da
indústria de cimento. Fontes contam que foi com o dinheiro da herança do
pai que o banqueiro, hoje com 77 anos, resolveu abrir o próprio banco. No
fim da década de 1980, fundou o Clássico, que usa como principal veículo
para os aportes na Eletrobras e na Petrobras.
Esta nota foi publicada no Broadcast no dia 13/06/22, às 15h51